Opinião
Impacto das guerras na economia mundial
João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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As guerras fazem parte da história da humanidade desde a antiguidade, mesmo que nunca tenha sido solução para nenhum dos envolvidos. Os únicos derrotados são o meio ambiente e a população indefesa exposta a ataques destrutivos que dizimam famílias inteiras e patrimônios construídos ao longo das suas trajetórias de vida. Vários são os motivos que levam os povos à guerra; desentendimentos religiosos, interesses políticos e econômicos, disputas territoriais, rivalidades étnicas, entre outras razões. A população sofre com danos irreparáveis para a saúde e qualidade de vida, perda de nacionalidade, isolamentos ou distância de entes queridos, de amigos e de vizinhos que os acompanhavam ao longo das suas existências. Uma guerra nunca foi solução para nada, afora causar inúmeros problemas que sequer são dimensionados e, quem paga a conta no final é o meio ambiente e as populações envolvidas de forma direta ou até indireta.
Charlie Chaplin já dizia que a ganância envenenou a alma do homem, criou uma barreira de ódio, nos guiou no caminho do assassinato e do sofrimento. Depois de duas guerras mundiais, acreditava-se que a humanidade pensaria várias vezes em repeti-las, mas o que se vê são os atuais conflitos entre Azerbaijão com Armênia em Nagorno-Karabakh, guerra civil no Iêmen, guerra da Síria, guerra entre Rússia e Ucrânia e mais recentemente a guerra entre Israel e Hamas. Os impactos sociais e ambientais de uma guerra são múltiplos e não têm sido devidamente dimensionados. No planejamento de uma guerra consta a destruição de infra-estruturas, cadeias de suprimentos, afora provocar pânico e caos no terreno adversário. Os inimigos são todos os habitantes da terra. Tudo que a humanidade tenta construir a guerra desconstrói. O desenvolvimento passa a ser visto do lado contrário de quem o construiu com investimentos advindos do esforço do trabalho de cada um que não tem para quem reclamar sobre perdas de vidas e de tudo que construiu.
No caso de Israel, dados publicados pelo Ministério das Finanças antes do início do conflito, apontavam para uma queda de cerca de 60% no Investimento Externo Direto (IED) no país, afetando, sobretudo, o setor de alta tecnologia. A queda no IED representa uma grande ameaça para a economia israelense, que é altamente dependente do capital estrangeiro. Em relação à guerra entre a Rússia com Ucrânia, embora ocorra distante do Brasil, provoca impactos na nossa economia, inclusive no setor agrário. Uma guerra nunca será um bom cenário: seja para a economia, para a dinâmica mundial, e muito menos para as pessoas. Num mundo globalizado como o que se vive no momento onde negócios e pessoas interagem de maneira instantânea, a guerra ganha proporção muito maior, já que se percebe que tudo está relacionado e, portanto, as consequências são sentidas em todos os cantos do mundo. Alguns resultados dos conflitos já são sentidos na Europa, desde o ataque da Rússia à Ucrânia em 24 de fevereiro. O encarecimento do preço dos alimentos, do petróleo, da energia elétrica e do gás são algumas das consequências mais sentidas após o início da guerra. O encarecimento dos preços dos alimentos, do petróleo, tem impactado diretamente a inflação no mundo todo e tem atingido diversos países. Isso ocorre porque Ucrânia e Rússia têm atuação relevante em dois mercados fundamentais para muitas atividades econômicas: o de alimentos e o de energia. Cabe ressaltar que a guerra entre esses dois países teve inicio no momento de retomada pós-pandemia da Covid-19, o que ganha proporção maior ainda, já que havia um movimento de crescimento econômico no mundo, mais uma vez freado por conta da guerra. O autor latino do 4º século Publius Flavius Vegetius Renatus já dizia: "Se queres a paz, prepara-te para a guerra".
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